27/03/2010

O caminhoneiro "homofóbico" que me deu nos nervos

O catarinense que deu carona pra gente quando fomos pro Espírito Santo de carona ficou afim da Monique.

Apaixonou. queria levar ela pra Santa Catarina.
Tanto que uma certa hora, eu cheguei à conclusão de que iria dar uma boa má resposta nele, de tão puto que eu tava ficando por ele repetir todo o tempo que só me deu a carona por causa dela.

Aí, eis que ele solta uma pior, que me deixou mais puto ainda.

Quando passamos por uma travesti que tava na beira da BR, ele insinuou que ia jogar o caminhão em cima dela, e disse:
- Dá vontade de passar em cima desses caras tudo quando tem um monte na beira da estrada.
e completou:
- Esse negócio de homem com homem, mulher com mulher.. ainda tem gente com ideia fraca querendo deixar essa gente casar.

Perguntei:
- Quê isso, você nao é melhor que a travesti. Se você pensa desse jeito, qual a sua opinião sobre o que o Hittler fez com os negros na época do nazismo?

Ele:
- Se liberassem a caça aos viados eu ia pegar a espingarda que tenho aí embaixo do banco e ia descer tiro quando passasse por um desses. [yow, o caminhoneiro que tava nos dando carona tava armado!!]

Mas essa fala dele foi a gota pra mim. Me talhou o sangue por completo mas ainda consegui:
- Que ideia fraca essa sua.

Falei isso num tom mudando de cor, me segurando. Mas deixei morrer o assunto por um tempo. Até que ele veio com uma pergunta:
- Posso te fazer uma pergunta chata? - Ele perguntou pra Monique

E eu tive que dar uma tirada:
- Se a pergunta é chata...

A Monique terminou minha frase:
- ...agente não faz.

Ele:
- Mas vou fazer mesmo assim, porque tô apaixonado por vc. Espero que vc não parta meu coração.. Você gosta de homem?

- Não é porque eu não sou namorada do Leo que eu não gosto de homem. [ela havia dito mais cedo que não éramos namorados, respondendo uma pergunta que ele tinha feito]

E não sei como, mas ele entendeu que isso respondia a pergunta dele.
- Ufa!

Olhou pra mim e disse:
- Então é você quem não gosta de mulher?

Pensei por 1 segundo se valia a pena evitar a fadiga. Olhei com cara de tédio pra ele, e com uma cara séria.
- É.

E ele assustou!
- Sério??? Cê gosta de homem mesmo? [como quem acabou de descobrir que não só as travestis lá na beira da estrada que têm pênis e gostam de homem]

E com um tom de voz seguro do que eu tava dizendo, e pronto pro que viesse:
- É.

Ele esticou a mão e disse:
- Parabéns, cara! Por você assumir assim..

Fiquei em silêncio. Ele continuou:
- Eu sabia. Quando falei dos travestis você ficou todo irritado e parecia que tava se controlando.

Eu:
- Não, eu não fiquei irritado por eu ser gay. Independente se eu sou gay ou não, eu sou a favor da diversidade, eu acharia a sua opinião estúpida mesmo que eu fosse hetero.

E então ele disse que estava brincando, que não liga pras diferenças, e que até gosta das pessoas serem diferentes umas das outras. [Sabe-se lá o quanto disso era verdade, se ele não estava só tentando se esquivar depois de ver que eu fiquei puto]

E eu só concluí mais uma vez uma coisa: se eu não tivesse me assumido por medo da reação dele, teriam nascido uns cabelos brancos na minha cabeça de estresse, eu desceria do caminhão indignado com ele e estaria puto com isso até hoje.

No fim das contas,

a gente virou "amigo". Ele fez janta na cozinha do caminhão pra mim e pra Monique, dormimos na boléia do caminhão (foto) com ele dormindo lá dentro também, e ele ainda disse que sempre vai pra Santa Catarina, que quando a gente quiser é só ligar pra ele que ele dava carona pra do sudeste pra lá!




Dormindo na boléia do caminhão



Depois que a gente desceu no caminhão dele durante a madrugada, começou nossa saga pra ir atrás do trem que carga no qual a gente queria subir pra pegar carona! Falei disso em outro post.