30/07/2011

Meus vídeos no youtube e a repercussão - respostas de trocentas pessoas indignadas comigo

Há muito tempo venho recebendo comentários a alguns dos meus vídeos no Youtube que vêm de pessoas revoltadas com minhas opiniões sobre os lugares onde elas vivem.
No Facebook mesmo, alguns meses atrás quando eu estive em Salvador (BA), eu postei uma mensagem cheia de críticas à cidade. Disse que todos os lugares que eu conheci lá fediam, que era cheio de mendigo por todas as partes e que eu me sentia inseguro pois em todos os lugares que eu ia (inclusive nos mais movimentados da cidade) mendigos vinham pedir coisas, e a maior parte das vezes o faziam com tom intimidador.
No Youtube, eu postei um vídeo sobre a cidade de Cabo Frio (RJ), fazendo piadas sobre a ressaca que costuma ter no mar da cidade, que enche a praia de algas parecendo lama. Afirmei que parecia um chiqueiro, que tava "cheio de cocô de porco" (colocando um "xD" depois dessa frase, ainda por cima). Inclusive, eu aproveitei a expressão de uma garota que passava pulando tentando se livrar das algas, pra zombar mais ainda.
Ainda no Youtube, também postei um vídeo onde eu e uma amiga estavamos subindo de carona para o Nordeste brasileiro, e ela afirma que à medida que a gente subia, "as pessoas ficam mais negras e mais feias".

Esses vídeos no Youtube e comentários no Facebook já me renderam muitas críticas, rótulos e palavras de ódio em geral. E isso ainda acontece, por que todos os dias eu recebo notificações de novos comentários de pessoas indignadas, todos chigando de tudo que é nome que se possa imaginar. Caso queira ver os comentários que enviam aos vídeos que posto no Youtube basta abrir a página dos vídeos, os comentários estão logo abaixo assinados por seus autores cobertos de ódio no coração (huashasuh).

O que as pessoas não entendem é o quão eu rio mais ainda quando recebo comentários delas. Eu odeio essa hipocrisia de ficar falando apenas de lugares bonitos, coisas boas, fantásticas, chiques, bonitas ou caras que os lugares têm. Faço questão de criticar as coisas e mostrar pras pessoas o que tem de ruim nos lugares também. O meu vídeo de Cabo Frio no Youtube é o único (pelo menos desde que eu o postei há 2 anos atrás até o momento deste post) que fala sobre a ressaca de algas, ainda que não seja de uma forma jornalística ou formal, mas de uma forma sarcástica e irônica. E se eu tivesse realmente me programado e gasto centenas de reais para passar um final de semana nesta praia (como supuseram em um dos comentários a este vídeo)? Ninguém teria me dito sobre o que eu possivelmente encontraria lá, já que todos só dizem e mostram que a cidade é linda e tudo de bom.

A forma que eu me expresso não fere nenhuma lei. As minhas críticas e exposições de coisas ruins da sua cidade também não. Todos têm direito de criticar o que eu disse (apesar de que em muitos casos, junto à crítica também tentam me ofender diretamente), assim como eu tenho direito de rir da crítica que me fazem, e de continuar mostrando o que eu quizer mostrar de lugares públicos por aí a fora (mesmo que isso fira seus sentimentos de patriotismo ou qualquer coisa do tipo).

A internet tá cheia de pessoas que interpretam as coisas erradas e não sabem diferenciar as coisas, eu sei bem disto. Este post é unicamente para esclarecer a todos sobre o direito que nós temos a criticar as coisas. Direito de achar lugares fedidos, de achar que as pessoas de uma região são mais negras e mais feias que as de outros lugares (pras antas: achar que pessoas negras são feias não é racismo, ainda que isto também não tenha sido dito em momento algum) e direito de dizer que algas da ressaca do mar fazem a praia parecer um chiqueiro.



Agora, um exemplo útil de resposta a um vídeo

Porém, existem também pessoas que ao verem piadinhas que eu faço sobre coisas que não funcionam bem em suas cidades, são capazes de vê-las como alertas que chamam atenção para coisas que de fato precisam e podem ser melhoradas.

Há 1 ano atrás estive na cidade de Marechal Floriano (ES), e quando cheguei lá a noite com uma amiga, fizemos um vídeo rindo sobre uma questão problemática na cidade: o rio que em qualquer chuva mais forte certamente transborda e inunda as casas das pessoas ao redor. (é, eu sou desses que ri da disgraça alheia em alguns casos)



Acredito que por a cidade ser pequena, esse vídeo acabou tendo poucos acessos, e nenhuma crítica como os outros. Mas aconteceu algo super interessante desta vez: um cara postou um vídeo da cidade após uma enchente, como resposta ao vídeo que eu tinha feito na cidade dele!



Acabei fazendo um comentário ao vídeo dele também:

olha só! eu tinha acabado de chegar na cidade qdo fiz aquele vídeo, e foi a primeira coisa que pensei: se cair uma gota de água aqui inunda tudo, com este rio razo!
obrigado pela resposta! algum dia eu passando por Marechal denovo me lembrarei do seu vídeo e vou entrar em contato pra ver se vc tá livre pra me mostrar um pouco a cidade :)
e também, parabéns por expor este vídeo na web, quem sabe a prefeitura o vê e se sente mais envergonhada a ponto de tomar alguma atitude em relação a isso.
abçs


É isso people, em certos pontos os caroneiros podem ser como sementinhas ao vento (hunn Leo Poeta!), que podem mudar alguma coisa na cidade onde caem, alertando pra alguma coisa que parece não estar indo bem e que pode crescer ou melhorar. Não deixem suas mentes fechadas: entendam críticas como algo que vcs talvez possam melhorar ;)
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28/07/2011

Viajei pelos bairros de BH, já que não podia viajar para outras cidades

Haviam 3 anos que eu morava em BH e conhecia muito pouco da cidade! Então resolvi ficar morando por mais ou menos uma semana em cada bairro da cidade onde eu conseguisse hospedagem (seja na casa de conhecidos ou de desconhecidos).

Dessa forma eu pude continuar indo à faculdade, não atrasei meu semestre, pude continuar ganhando alguma grana por continuar indo diariamente pro trabalho (ainda que, dependendo do bairro onde eu estivesse hospedado, fosse maior luta ir e voltar do trampo por ser muito longe e precisar pegar vários ônibus).

O resultado é que agora eu conheço um pouco mais a cidade onde eu moro, eu conheço outros estilos de vida de se viver dentro de Belo Horizonte, e eu pude conhecer e aprender outras coisas, como em uma viagem "comum" pra outros países, estados ou cidades. :P

A hospedagem foi por conta do CouchSurfing, gratuitamente como sempre, apenas com a gentileza das pessoas! :D



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11/07/2011

5 horas de viagem com uma travesti, que viajou sozinha de carona por vários estados brasileiros

O último feriado havia passado, e todo o meu plano de ir pedindo carona de Belo Horizonte ao Rio de Janeiro foi por água abaixo graças a umas provas que tive que fazer. A última vez que eu havia viajado foi no carnaval, uns cinco meses(!) atrás.

Postei no Facebook uma mensagem perguntando se alguém teria sugestões de outro lugar onde ir em vez do Rio, algum lugar em Minas. Obtive umas cinquenta respostas, mas no fim das contas acabei decidindo ir pra minha cidade natal no interior de Minas, Raul Soares! Como se já não fosse entediante o suficiente, desisti de ir de carona porque já estava ficando muito tarde.

A travesti da bagagem rosa

Até que eu vi êla, uma travesti guardando sua mala pra entrar no ônibus. Com seus super seios turbinados, um cabelão lisíssimo até a cintura, as sombrancelhas bem fortes feitas de lápis, bagagem rosa ultra chegay, e um vestido azul (bem elegante!) curtíssimo. Sozinha e imponente, daquelas que jogam na cara que é um homem vestido de mulher, e não está fazendo questão alguma de passar impercebível como se fosse uma mulher comum.

É, eu admiro as travestis. Poucas pessoas são fortes o suficiente pra enfrentar o que elas enfrentam todo minuto de vida até nos dias de hoje em pleno 2011. E eu digo "enfrentar" por quê sempre, em qualquer lugar que elas vão, há aqueles que passam de longe e gritam querendo provocá-las. Gritam coisas sobre seus corpos ou suas aparências. E há também aqueles que passam as desejando de forma bem discreta, um desejo que só elas sutilmente percebem (e como elas percebem!).

Êla, a travesti que tava guardando sua bagagem (não posso usar a palavra "mala" nesse contexto pra evitar ambiguidade) se chama Cátia. Cresceu na mesma cidade que eu, estudou na mesma escola que eu, teve os mesmos colegas de turma que eu, e inclusive me bateu algum dia depois da aula quando éramos criança.

Depois que crescemos, eu morei em várias outras cidades e quase nunca voltei à nossa cidade natal. Então raríssimas vezes nos vimos, mas sempre que isso acontecia eu fazia questão de cumprimentá-la, como uma tentativa de puxar conversa. Numas dessas poucas conversas acabei descobrindo segredos bem reveladores sobre pessoas da nossa cidade que geralmente têm certas atitudes homofóbicas. Descobri segredos até de familiares próximos meus, daqueles típicos "machos" da família. Mas não quero entrar nesses detalhes.

Um fato inusitado é que em homenagem à essa travesti (a única da minha cidade natal), certa vez eu ganhei um filhotinho de gato e dei seu nome a ele. Sim, meu gato se chamava Cátia. Eu morava numa república com 12 homens heteros em Viçosa (também interior de Minas), e cheguei a ouvir um dos caras da república dizer que não aceitaria que eu desse um nome feminino a um gato "macho". Terminei aquela discussão com um curto e grosso "Quem é o dono?".

Quando Cátia entrou no ônibus que nos levaria rumo à Raul Soares, todos olhavam pra ela. Um cara havia assentado em seu lugar (assento marcado na passagem), o que a levou a pedir a ele pra dar licença. Os amigos do cara, que estavam na poltrona de trás, estavam rindo e fazendo altas piadas, durante o tempo que ele se mudava para a poltrona ao lado. Sabe-se lá se estavam rindo se divertindo de algo aleatório, ou se estavam fazendo piada contra o cara porque ele iria viajar assentado ao lado dela. Só sei que enquanto isso eu estava lá atrás empolgado gritando o nome dela. "Cátia! Tem um assento livre aqui, vem pra cá sentar comigo!". Mas ela preferiu ir no seu assento reservado mesmo, talvez porque era um assento à janela, ou talvez porque esse cara que estava ao seu lado era um gato mesmo. rsrs

Passou mais ou menos uma hora, e a merda do engarrafamento não havia nos deixado sequer sair da região metropolitana de Belo Horizonte ainda. Eu já tava quase pulando pela janela, me roendo inquieto, entediado, sem nem sequer ter meu celular pra me entreter. Acabei indo até a Cátia e a convidando novamente a assentar-se comigo. Ela aceitou.

Ao assentarmos, uma garotinha que estava no banco à nossa frente pulou em pé no banco e ficou perguntando pra sua mãe:

- Ele é o amor dela? - apontando pra gente.
Cátia:
- Não, ele é só meu amigo..
E a menina continuava perguntando. Até que a mãe dela respondeu:
- Ela é amiga dele, não é o amor não!

Fofura a falta de certos preconceitos na cabeça das crianças.

O tempo foi passando e eu e Cátia fomos conversando. Ela me contou sobre seu mundo, seu dia-a-dia. Sobre ela gostar muito de viajar, e sobre durante uma fase que ela viajou bastante pedindo carona(!) por vários estados brasileiros. Ela além de sair sem grana, não tinha Couchsurfers ou amigos de internet, nem amigos de amigos que pudessem hospedá-la. Ela se virava por aí, e ia conhecendo vários lugares sozinha! Acredito que por isso a gente pôde falar de tantos assuntos variados, e sobre os "mundos" tão diferentes nos quais vivemos.

Já escutei histórias de pessoas que viajam assim e se prostituem. Garotos gays muito frequentemente assumem uma postura mais afeminada e muitas vezes se travestem não por se identificarem com aquele gênero ou estilo de vestir, mas sim pelo fato de que assim eles começam a ser mais procurados por homens e clientes em geral.

Muitas dessas pessoas que se prostituem, quando não gostam de um cliente ou outro, chegam a furtar dinheiro de suas carteiras (sem que o cliente se dê conta, claro), e fazem isso porque acharam que aquele cliente "merece". As formas sutis de esconderem o que furtaram (dinheiro ou o que seja, caso furtem algo diferente) varia bastante. Algumas escondem as notas furtadas em meio ao cabelo preso. Algumas conseguem escondê-las até entre o pé e o chinelo, caso estejam calçando chinelos(!).

A vida de pessoas que se prostituem nas ruas geralmente é bem incerta. Elas passam a noite em ruas ou postos de gasolina à beira da estrada esperando aparecer algum cliente. E eu suponho que sempre há clientes, caso contrário não seria tão comum encontrar pessoas nessa profissão por anos. Algumas as vezes furtam, às vezes enfrentam clientes tão hostis e perigosos quanto elas mesmas (não todas) podem ser. Elas aprendem a serem hostis pra se defender.

Quando eu conto pra pessoas que se prostituem e viajam, assim como a Cátia, que eu também já viajei assim sem grana, me hospedei na casa de pessoas que não conhecia, e etc, elas logo me perguntam se eu nunca troquei sexo por uma carona, por uma hospedagem ou por um prato de comida. Não, eu nunca. Elas dificilmente acreditam que possa existir tanta gentileza no mundo.

Nosso ônibus parou em um posto desses grandões de beira de estrada pras pessoas comerem. Cátia me disse enquanto fumava seu cigarro:

- Claro que eu gosto de chamar atenção. Mas não é sempre. Agora por exemplo, eu sou uma pessoa qualquer viajando, mas as pessoas em volta só olham pra mim.

Propuz que viajássemos pedindo carona juntos pra algum lugar qualquer dia. Acho que ela gostou da ideia.

Enquanto todo mundo dormia no ônibus o resto da viagem, nós dois lá atrás não parávamos de falar. Chegamos a Raul Soares e nos despedimos.

Raul Soares é uma cidade pequena, então no dia seguinte acabamos nos encontrando. Estávamos numa festa à noite, eu usava pó compacto e base no rosto, lápis e sombra nos olhos, enquanto vestia roupas masculinas mesmo. Foi mais uma homenagem que fiz à ela, ou uma inspiração vinda dela.




De Belo Horizonte à Raul Soares foram 5 horas de viagem que fiz junto com Cátia naquele ônibus da capital até nossa cidade natal. 5 horas de bastante conversa com aquela pessoa que a mim me pareceu tão igual à cada um daqueles que desde criança eu escutei (e escuto) fazendo piadas com seu nome lá na nossa cidade de interior. Uma pessoa tão igual a mim que sou admirado por aquelas pessoas da nossa cidade de interior pelo fato de eu ter conhecido tantos lugares diferentes só na cara e na coragem.

A diferença entre eu e Cátia, no mérito (viagem, etc) que faz essas pessoas da nossa cidade natal me admirarem, provavelmente está no fato de que ela viajou e viveu "aventuras" muito mais intensas do que as minhas. Mas provavelmente ninguém jamais verá isso.
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