16/01/2013

2 garotos, 3 países, 36 horas e 1410 km pedindo carona por estradas da América do Sul

 Ei gats! Ainda não morri, fiquei sem postar nada nos últimos dias pq tinha muuuuitos vídeos pra eu cortar e transformar em um único vídeo pra postar aqui. Bom, estou em Buenos Aires!

Depois de chegar de Florianópolis pedindo carona e passar duas noites em Porto Alegre, no dia 09 de janeiro (quarta-feira) eu e Leandro pegamos estrada denovo com objetivo de chegarmos a Buenos Aires, passando por Montevideo e sem parar denovo pelo caminho.

Estávamos lá na saída de Porto Alegre, e parou um carro que estava indo pra Santana do Livramento, uma cidadezinha que faz fronteira com o Uruguay. Acabamos trocando nosso plano de rota (que tínhamos a intensão de passar por Montevideo) e lá fomos nós cortando os pampas do Rio Grande do Sul de carro até Santana do Livramento.



Clique aqui para ver o mapa ampliado.


Durante o caminho, decidimos que ao chegar em Santana do Livramento iríamos cruzar a fronteira (chegando a Rivera, uma cidadezinha ao lado, mas que fica do lado Uruguaio) e pedir carona para Tacuarembó (Uruguay) e depois Paysandú (Argentina). Aconteceu que pegando carona por ali, um cara que deu carona pra gente de carro disse que estava indo para uma cidadezinha no sul do Uruguay, e que deveria chegar por lá (de carro) por volta das 4horas da manhã. Ok, mudamos o plano novamente e fomos com ele. Passamos a noite cruzando o Uruguay em um carro velho e um céu LIN-DÍS-SI-MO!


Clique aqui para ver o mapa ampliado.



Amanheceu e estávamos então na cidadezinha de Carmelo, à beira do Rio la Plata. Chegamos a consultar o preço da passagem da lancha que leva de Carmelo a Buenos Aires, cruzando o rio. Nos haviam dito que a passagem era super baratinha, mas quando perguntamos, demos conta que custava 650 pesos uruguaios (68 reais), e preferimos ir pela estrada mesmo, já que tínhamos tempo.

Terminamos cruzando a fronteira Uruguay / Argentina pela ponte Libertador General San Martín (entre as cidades Fray Bentos e Gualeguaychú), e assim chegamos na Argentina. Poucos quilômetros à frente nos deixaram num trevo de uma cidadezinha chamada Zarate. Foi aí então que passamos as horas mais difíceis da viagem.



Era estrada de 3 pistas, fluxo muuuuito rápido. Já haviam nos dito que dificilmente alguém ia se parar pra gente, sobretudo porque "portenhos são uns boludos e não dão carona", nos diziam. Ainda assim estávamos confiantes, até porque não tínhamos sequer um peso argentino (e ainda que tivéssmos, não tinha como pegar ônibus por ali) para termos alguma outra opção.

O Leandro começou a dizer que estava ficando desesperado nesse trecho, já que não tinha nada nem ninguém por perto, não tínhamos 3G, não tínhamos como ligar pra lugar algum pra pedir ajuda, e todo mundo passava por ali muito rápido sem dar nenhuma bola pra gente. Eu particularmente já estou meio que acostumado a essas coisas, não estava desesperando, mas de fato estávamos uns cacos de cansaço por termos passado a noite na estrada e o dia anterior todo caminhando e pedindo carona debaixo de sol muito forte (obrigado mãe por ter me dado um vidro de protetor solar antes de eu sair pra viajar! hahah). Aliás, era melhor sol do quê chuva - pelo menos quanto a isso tivemos mais sorte.

A nossa água estava acabando, quando furou o pneu do carro de um senhor, que teve que parar pra trocar a roda. Aí fomos até ele oferecer e pedir ajuda. Ele não deu a mínima bola. Aí percebemos que estávamos lidando com aquela personalidade que nos descreviam como típica de portenho. Sério, eu nunca fui tão ignorado na minha vida como quando fui falar com esse senhor. Eu tentei puxar conversa e oferecer ajuda todo simpático e ele sequer olhou na minha cara, fingindo que não ouvia e que não percebia nossa presença. Mas insisti, decidi apelar e conjugar "usted" e a chamá-lo de "senhor" (coisa que eu NUNCA faço com ninguém, e nem sei conjugar direito), e disse:

- Señor, usted me puede hablar por un minuto?!!!

Aí ele me olhou de lado. E falei:

- Nosotros venimos de Brasil, estamos caminando hacen 5 horas, no tenemos pesos argentinos y nadie se para a nosotros.

E ele virou a cara como quem não estivesse escutando. Insisti denovo:

- Usted nos puede ayudar?

Denovo fui ignorado. O Leandro fez cara de "ah, deixa pra lá, vamos embora", mas disse pra sentarmos e esperarmos. O Leandro sabe trocar pneu de carro, então ficou do lado do senhor tentando auxiliar e também sendo ignorado. Eu filmei nesse momento.

Durante todo o tempo não sabíamos se ele ia nos levar ou não. Um ótimo lugar pra se pedir carona é logo à frente de um carro parado à beira da estrada passando por manutenção: as pessoas te vêem ali, pensam que vc estava no carro e está precisando de uma carona pra ir buscar ajuda, aí aumenta a chance de pararem pra você. Então eu podia ir lá pedir carona acreditando que no fim o senhor ia embora e não ia nos levar, mas acabei preferindo ficar ali esperando mesmo, pra não ficar parecendo que a gente ainda tinha esperança de conseguir outra ajuda se não a dele.

No fim de tudo, juntamos as coisas que ele usou pra trocar o pneu e colocamos no carro pra ele. Ele ali bufando e soando, parecendo que ia morrer, tomou uma água (matando a gente ainda mais, pq tínhamos muita sede e não tínhamos nem mais uma gota de água), e descançou um pouco. Aí sim ele falou algo:

- Para donde van ustedes?

E o Leandro respondeu:

- Para Buenos Aires, pero cualquier lugar en el camino también está bueno.

E o senhor:

- Uno va a trás y el otro adelante.

Uffffff! Salvos! Durante o caminho ele ainda foi grosso comigo, dizendo coisas como "Tenho que ir devagar por causa da roda, mas se estiver ruim, desça e vá caminhando!", mas só me restou dizer "Ok."

No fim das contas, ele estava indo para o mesmo bairro que a gente, e com a mesma cara de não dar a mínima pra gente, nos ofereceu um suco de pomelo geladinho (fruta que é comum aqui mas não tem no Brasil, eu acho) e nos deixou na porta da casa do Fabián (meu amigo que está hospedando a gente aqui).


Clique aqui para ver o mapa ampliado.


Super agradescemos tentando demonstrar o quanto estávamos felizes pela ajuda dele, mas ele nem se importou com isso também.

Agora o vídeo que passei os últimos dias tentando editar enquanto descansava da viagem e faziamos algum passeio.



Um "pequeno" filme de toda a viagem


Bom, o vídeo dessa viagem virou quase que um curta metragem, de tão longo. hahah Mas me matei pra fazer, e agora já me cansei de ficar perdendo o tempo que eu posso estar conhecendo a cidade só pra tentar diminuir seu tempo de duração.
Eu sou amador nisso de editar vídeo, só tento fazer algo legal já que um tanto de gente me pede. Espero que tenham paciência de ver. hahaha






Bom, quem quiser informações sobre como pedir carona em alguma dessas cidades onde a gente pediu carona durante toda essa viagem, confiram no Mapa do Hitchwiki, que eu compartilhei dicas lá!


Agradecimentos

Tradução das legendas feitas por:
- Fabián Matías Román (de Buenos Aires, Argentina), tradução para espanhol.


Estatísticas da viagem


 Saímos do Brasil e cruzamos o Uruguay até chegarmos na Argentina em uma viagem pedindo carona sem parar para dormir em nenhum lugar.





Se quiser ver a rota percorrida no mapa, tive que dividir em dois mapas pq o Google Maps não conhece a ponte Libertador General San Martín (entre Fray Bentos e Gualeguaychú):

Totais:

  • 0 reais gastos com comida (levamos alguns amendoíns e biscoitos)
  • 15 reais gastos com transporte (do centro de Porto Alegre até a saída da cidade)
  • 3 países: Brasil, Uruguay, Argentina
  • 10 caronas: 7 carros, 3 caminhões
  • 36 horas: 1 dia e meio (incluindo a noite)
  • 1410 km

Tempo de espera para pararem pra gente:

  • Porto Alegre, 1h 53min
  • Rivera, 2h 40min (até aduana)
  • Rivera, 20min
  • Minas de Corrales, 20min
  • Carmelo, + ou - 1h caminhando e 20min pra conseguir carona
  • Nueva Palmira, 30min (caminhando + carona)
  • Fray Bentos, 20min
  • Gualeguaychú, 2h 40min carona até a Ruta 14 (caminhada + usando wifi no posto de gasolina + carona)
  • Ruta 14 (trevo de Gualeguaychú), 25min
  • Zarate, 3h 30min (caminhada + carona)

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