04/02/2013

Caronando do Uruguay ao Brasil com direito a chuva na beira da estrada e a sermos salvos por Karina Van Ron

Waaaaah, acordamos cedo dessa vez pra irmos pra saída da cidade! Não tããão cedo, mas ainda em um bom horário pra se pedir carona. Deve ser por culpa do trauma da vinda de Buenos Aires até aqui. hahahah

A distância a ser percorrida de Montevideo (Uruguai) ao Chuí (Brasil) é super pequena, mas tava tão difícil conseguirmos carona que esse dia nos rendeu uma aventura e tanto, com direito a ficarmos no meio da estrada debaixo de chuva ensopando nossas coisas (depois de pegar sol fortíssimo de verão dia inteiro) até uma mulher louca uruguaia nos socorrer e nos levar pra pousada da família dela (que fica num sítio super massa), nos dar comida, cerveja, lugares super confortáveis pra dormirmos e até dinheiro na manhã seguinte.

Primeiro dia de viagem, "desgraças" quase acontecem


Às 9 horas da manhã já tínhamos acordado, arrumado tudo as coisas (e esquecido meus fones de ouvido, pq CLARO, eu sempre tenho que esquecer algo na casa da galera) e o Federico nos deixou no Pedágio Pando, na saída de Montevideo. Estudei melhor o trajeto dessa vez, e planejei que somente aceitaríamos caronas que nos pudessem deixar em algum desses lugares: Pedágio Solís, Rocha (cidade) ou Chuy (nossa cidade-destino de hoje).


Pedindo carona de Montevideo até o Pedágio Solís



Estávamos confiantes. Fomos primeiro pra parada de ônibus que estava bem ali depois do pedágio, apesar de quê não havia acostamento traçado nesse lugar.


Não apareceu o número do ônibus na foto, mas acho que é fácil vcs descobrirem que ônibus leva até aí no Pedágio Pando, caso queriam pedir carona aí ;)

(NOTA: Peaje Pando e Peaje del Peaje del remanso de Neptuni é a mesma coisa, nomes diferentes pro mesmo pedágio. O nome oficial do pedágio é Pando.)

Nesse lugar a gente conversou e pediu informação a um ser humano daqueles maaaaais inimagináveis do mundo: uma mulher barbada. Eu falo sério, ela tinha tipo MUITA barba no pescoço e no rosto, e daquelas barbas grandes e cultivadas. Eu conversei com ela, e sem dúvida tinha voz e rosto de mulher, com nariz fininho e tudo, mas sabe-se lá como lhe brotou mais barba no rosto do quê brotou no meu em toda minha vida. Aliás, não tem como ver na foto a barba e o rosto dela, mas é essa que tá sobindo no ônibus aí. huashaushasuh

Mas enfim, Leandro caminhou um pouco mais a frente e viu que poucos metros a frente tinha um acostamento. Fomos pra lá. Foi só chegarmos e parou um carro. Nos levaria somente uns quilômetros à frente, antes mesmo do Pedágio Solis (que era o destino mais próximo na lista de lugares até onde aceitaríamos ir). Então agradescemos e ele seguiu sozinho.

Nem 5 minutos depois já parou outro carro, que estava indo pra Piriápolis. Ok, o Pedágio Solís era caminho pra ele, então pulamos pra dentro do carro e lá fomos nozes na nossa primeira carona do dia.

Descemos no Pedágio Solís. Fomos colocar nossas mochilas em um banco que tinha em frente a um ponto de informações turísticas. Eu estava de óculos escuros e a garota que trabalha lá dentro sorriu pra mim toda simpática. Na real eu não vi isso, só dei conta pq o Leandro tava do meu lado e a cumprimentou de volta. Aí fui lá falar com ela.

Era a Caro, uma garota que mora ali por perto e era tipo UM AMOR de pessoa. Enquanto o Leandro ficava lá pedindo carona, ela me deu um papel gigante pra fazermos uma placa maior pro Chuí. A nossa nem estava em tamanho ruim, mas pelo jeito ela queria ajudar de alguma maneira. Risquei o contorno da palavra "Rocha" e embaixo "Chuy". Enquanto eu coloria "Chuy" ela pegou um pincel preto que ela tinha por lá e me ajudou colorindo "Rocha". Eu acabei tendo que contar pra ela que escrevo um blog e pedi pra tirar uma foto com ela pra citá-la na nossa história dessa viagem, de tão amável que era a garota. E assim ela foi pra fora pra que o Leandro também estivesse junto na foto...




E nem terminou aí. Ela nos trouxe uma garrafinha de água geladinha, e ficou no meu pé mandando que eu me passasse protetor solar pq já estava vermelho no sol. Não sossegou até que eu o passei.

Ela disse que nunca pediu carona na vida. Achei uma ótima deixa pra colocá-la pedindo carona junto com a gente pra ver se conseguíamos carona mais facilmente. E funcionou! hahahhaha





Pouco depois ela disse "Que engraçado, poucos minutos que a gente está se falando e parece que a gente é amigo há anos!".

O engraçado é que ela estava achando que eu era hetero. Até mesmo quando eu falei da Larêssa (uma grande amiga de infância), ela me perguntou se a gente namorava, porque geralmente amigos de infância crescem e acabam namorando alguma época, disse ela. hahahaha Por alguns instantes eu até achei que ela poderia estar afim de mim, mas deixei como estava. Não senti necessidade de falar que sou gay e certamente isso nem ia fazer diferença alguma, só falei que não, eu e Larêssa não somos nem nunca fomos namorados (ainda que muita gente que nos conhece pense o contrário também) hahahhaah

Uma amor de garota. Acho que uma típica uruguaia. Um lugar onde existem tantas pessoas amáveis assim é muito raro de encontrar. (Obs: "amáveis" não quer dizer que dão carona facilmente. hahahah)


Do Pedágio Solís, ignoramos Punta del Este e fomos pedir carona em Pan de Azúcar



Um milhão a cada dez pessoas que passavam estavam indo pra Punta del Este. É, eu imagino que se vc já ouviu falar dessa cidade você estará se perguntando "Por quê diaaaaaabos essas bixas não visitaram Puntaaaaaaaaa???" e a resposta é: "Não tínhamos tempo!". Era terça-feira, a gente queria visitar alguns amigos no caminho e chegarmos tranquilos com pelo menos um dia de antecedência a Porto Alegre (800km de distância de Montevideo) pra pegarmos um vôo que nos levaria até São Paulo.


Minha mão em Punta del Este há 3 anos atrás, a outra vez quando vim caronar sozinho pras bandas de cá (clica aí pra ler a história).


Então, negamos umas quatro caronas que pararam pra gente, todas indo para Punta. Nosso próximo destino depois do Pedágio Solis deveria ser diretamente Rocha. Mas, eis que um senhor parou e nos disse que deveríamos aceitar a carona dele até Pan de Azúcar, uma cidadezinha poucos quilômetros dali que ficava bem no trevo onde as pessoas que iriam pra Punta del Este se separavam das pessoas que iriam pra Rocha. Como já fazia quase 1h30min que a gente estava parado ali, acabamos aceitando.

Descemos em Pan de Azúcar, onde passavam pouquíssimos carros, talvez por ser meio dia, horário que geralmente as pessoas estão almoçando. A gente foi conseguir sair daí só 2 horas depois, quando eu fiz uma plaquinha com o nome "San Carlos", que era uma cidadezinha no caminho. Ou seja, aquele nosso plano de só pegar carona direto do Pedágio Solis até Rocha e depois Chuy estava indo por água abaixo.

Essa carona foi na caçamba de um carro, e nos deixou na entrada de San Carlos.






Um cara que passou a cavalo nos aconcelhou, com seu sotaque caipira em espanhol (huashaush), caminharmos um pouco mais e pedirmos carona depois de uma ponte que tinha lá. Quase não passava nenhum carro, daí resolvemos tentar o que ele aconcelhou.

Passando sobre essa ponte, tinha um mooooooooooooooonte de pessoas nadando sobre o rio debaixo dela. Tava um calor da porra, eu quase morri de inveja querendo pular naquela água linda que não parava de me chamar. Se tivéssemos coisas pra comer e uma barraca, eu não duvido nada que talvez a gente tivesse resolvido acampar por ali nesse dia. Até pq já eram quase 15:30.

Ficamos aí depois dessa ponte, mas me parecia um péssimo lugar pra pedir carona. Os carros desciam por um morro e passavam pela ponte. Ou seja, alta velocidade, pouco improvável de pararem. E ainda passavam pouquíssimos carros.

Ficando tarde na estrada, conseguimos uma carona com Karina Van Ron!


Foi ficando tarde, o Leandro deu ideia de voltarmos pra San Carlos e pegarmos um ônibus pro Chuí. Eu o deixei livre pra fazer isso, caso quisesse, mas falei que eu não iria junto. Ainda era terça-feira, tínhamos muitos dias de viagem. Se tivesse que dormir na rua denovo eu dormiria tranquilamente, e no outro dia cedinho seguiria caronando. Ainda era terça-feira, como disse, e dia de semana na parte da manhã é de boa pedir carona basicamente sempre, então eu não via motivo pra essa pressa toda.

Ele continuou ali comigo pedindo carona. Eu vi uma casa de campo lá longe e um homem nela. Nossa água já estava nas últimas gotas, então sugeri ao Leandro que fossemos lá pedir água ao homem e tentar fazer "amizade". Daí se escurecesse e a gente ainda estivesse por ali, poderíamos ir até a casa dele denovo e perguntar se ele tinha um teto por ali pra gente poder se esconder caso chovesse, e no fim das contas talvez ele até tivesse umas camas e nos oferecesse. Era arriscado, mas era o que tava tendo e opção, se não quiséssemos voltar milhões de quilômetros até San Carlos (mentira, não eram tãããão distante, mas dado nosso cansaço, a falta de água e o sol...)

Nesse tempo aí na ponte pedindo carona, veio caminhando do outro lado da estrada um possível caroneiro. Atravessei e fui conversar com ele, ele ia em sentido San Carlos.





Mais ou menos 1h30min um carro parou. Ahhhhh, eu não podia crer que alguém havia parado e meu olho deve ter até brilhado iludido que poderiam estar indo até Rocha, pelo menos.

Fomos nos aproximando do carro e demos conta de que a placa do carro era da Califórnia. Sério, CALIFÓRNIA! Ainda de Hollywood! E quer saber mais? Dentro dele tinham DUAS MULHERES! A primeira carona com mulher que pegamos em toda a viagem! E eu poderia jurar que isso nunca aconteceria por sermos dois homens, pq comigo mesmo, ao longo desses meus zilhões de anos de caroneiro, posso contar nos dedos as poucas caronas com mulheres que eu peguei.

A motorista era uma loira de olhos azuis chamada Karina, que depois fomos saber que é conhecida como Karina Van Ron (clica no nome dela que o Google te dirá quem é), tem como ouvir suas músicas aqui e tem como assistir clipes de suas músicas aqui e tudo.

A co-piloto da Karina era uma garota que pertencia à uma família que vive/cuida de uma pousada que a família da Karina tem. A Karina nos contou que ao dizer pra ela que iria parar pra dar uma carona pra gente, a garota disse "Nãããããão, não faça isso!!!" porque achava perigoso. Mesmo assim a Karina parou imediatamente e nos tirou daquele lugar.

Ô mulher doida, viu? hahhaah Sério, eu acho que alguém que não sabe nada de inglês provavelmente não entende quase nada do que a Karina diz. Ela sempre mistura o que fala com expressões em inglês, principalmente quando conta histórias de coisas que aconteceu com ela pelos Estados Unidos, onde viveu (e de onde se trouxe o carro, óbvio).




Às 17 horas Karina nos deixou na entrada de José Ignácio, onde ela pegaria outra estrada pra ir pra pousada da família dela e se foi.


Pedindo carona onde ninguém parava, chuva na beira da estrada e anoitecendo sem barraca ou abrigo


Great, umas horas depois que Karina nos deixou ainda estávamos lá, na beira da Ruta 9 pedindo carona pros carros da Fórmula 1 passando a mil por hora. Aí pra piorar, começa a chover!

Nenhum lugar por perto pra escondermos da chuva. NEM UM, UM NADA! A estrada era totalmente vazia e inabitada. Aí que eu dei conta que minha capa de chuva na verdade não tinha sequer pego estrada comigo, tinha ficado em Minas!

Nossa sorte foi que a Mah (a garota do Paraná que caronou comigo de Curitiba até Floripa no começo dessa viagem) havia me dado um guarda-chuva e esqueceu a sua capa de chuva na casa da Pira, lá em Floripa, e eu os trouxe na viagem. E também que o Edu (quem nos hospedou em Porto Alegre) nos deu um plástico gigante que poderíamos usar pra taparnos da chuva na pior das hipóteses.

Bom, e era das piores das hipóteses mesmo. O jeito foi amontoarmos nossas mochilas no chão e colocarmos o plástico do Edu por cima. Eu peguei o guarda-chuva e o Leandro vestiu a capa.






Estávamos fodidos. Nem assim o povo tinha dó e parava pra gente. Ia anoitecer ia a gente tava fudido sem barraca, sem um teto, sem nada nem ninguém pra pedir ajuda por perto.

Karina! Eis que Karina tinha deixado um panfleto da pousada da família dela e seu telefone de contato. Gossssshhh então tínhamos uma alternativa!! Enviamos uma mensagem por celular pra Karina, dizendo que começou a chover, explicando nossa situação e perguntando se ela podia nos ajudar de alguma maneira. E ela respondeu só "Ok", o que, pra mim, não dizia muita coisa.


No verso tinha o telefone de contato e um mapa de como chegar na pousada.


O Leandro disse pra eu colocar a capa de chuva, que talvez alguém passando rápido de carro acabasse me confundindo com mulher. hahhahaha Adorei a ideia, e vesti a capa. Na hora que fui levantar o dedo pra pedir carona, olhamos pro outro lado da estrada e lá estava o velho carro californiano!

Ahhhhh, a gente não pôde crer! E sabe mais? A Karina nos disse que estava na pousada pensando se a gente ainda estaria por lá tentando carona debaixo daquela chuva, e quando já estava quase decidida a sair pra possivelmente nos resgatar, chegou nossa mensagem pedindo ajuda!


Pessoas incríveis do caminho


Karina nos resgatou daquela chuva com seu sobrinho chamado Delfin (sim! "Golfinho" em espanhol!), nos levou até uma vendinha, nos comprou um sanduíche de milanesa, mais um monte de coisa de comer (até pro café da manhã no dia seguinte!) e ainda uma garrafa de UM LITRO de cerveja SÓ PRA MIM (eu achei que alguém iria tomá-la comigo, se imaginasse que fosse só pra mim teria dito que nem precisava).

Além de nos salvarem da possível "desgraça" de termos que passar a noite num lugar que chovia e não tinha nenhum lugar pra nos abrigarmos, fomos acomodados em um quartinho da pousada super confortável, tentando fazerem tudo escondido sem que os pais da Karina vissem, pq ela não havia avisado nada a ninguém. Ventava MUITO, além de chover.

Eles saíram pra buscar nossas coisas no carro e nos deixou ali no quarto. Logo alguém bateu na porta. Pronto, era a mãe da Karina. Ficamos meio apreensivos com medo de tomarmos um esporro, ou de ela assustar com essas duas pessoas desconhecidas ali sozinhas no quarto da pousada dela.

MAS, por sorte ela não assustou e a Karina chegou bem na hora, já tratando de nos apresentar e de dizer:

- Leo es un famous hitchhiker de Brasil, cómo el Kerouac brasilero.

hahhahahah, achei engraçado, mas até era uma coisa boa, pq talvez assim a mãe dela não ficasse com medo desses dois caroneiros desconhecidos que a filha catou na beira da estrada e trouxe pra dentro da pousada dela, pro quarto onde tinha várias coisas deles.

Pensei que a gente passaria tipo boa parte da noite conversando, mas a Karina tem hábito de dormir cedo (o que foi bom também pq estávamos muito cansados e tínhamos planos de acordar bem cedo), então nos deixou lá no quarto com toalhas pra podermos tomar banho, com as camas forradas e prontos pra dormir num conforto que nunca imaginávamos que teríamos na noite daquele dia.


Clique aqui para ver o mapa ampliado dos pontos onde pedimos carona.


Segundo dia de viagem, chegando ao Chuí, que nos acolhe de volta ao Brasil


No outro dia cedinho a Karina nos despertou como tínhamos combinado. Tomamos um banho quentinho e Karina nos preparou um café da manhã enquanto Delfin dava uma volta com a gente nos mostrando a pousada e a paisagem IN-CRÍ-VEL que a circunda.




 


Tomamos café e Karina quis levar-nos até a estrada denovo pra pedirmos carona. Pedimos informação a um senhor, e ele nos indicou seguir uns 10km mais à frente de onde a gente estava pedindo carona, pq lá haveria uma parada de ônibus, onde certamente seria mais fácil conseguirmos uma carona.





Pra mais informações/fotos sobre esse paraíso onde a Karina nos alojou, www.CasaIrupe.com


Ah, além de TUDO ISSO que Karina fez por nós, ela ainda nos deu dinheiro pra que pudéssemos pegar um ônibus até Rocha, e de lá podermos possívelmente conseguir caronas mais facilmente na nossa jornada ao Chuí. Eu não gosto de aceitar dinheiro nas viagens, mas acabei aceitando esse depois da experiência do dia anterior nessa mesma estrada.





Porém, a gente sequer precisou usar o dinheiro! Eram 8h30min de uma quarta-feira, as chances de conseguirmos carona eram bem altas. TÃO altas que TRÊS minutos depois um senhor parou pra gente e nos levou direto a Rocha.

Às 9horas da manhã descemos em Rocha. Guess what? Em menos de 10 minutos conseguimos uma carona DIRETO ATÉ CHUY!!!

Às 10:55 da manhã estávamos lá lindas cruzando a rua Uruguay e rua Brasil, as duas ruas paralelas que nos separavam entre os dois países. ESTAMOS DE VOLTA BRASIL! :P


Clique aqui para ver o mapa ampliado dos pontos onde pedimos carona.


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